Quem em 2024 escreveria em um blog?
Em uma era de monetização, de Medium, de ex-Twitter, de vídeos
infinitamente curtos rolando infinitamente diante dos seus olhos. Quando o feed
é o alimento da alma e o algoritmo o deus que rege o humor das massas?
O vazio, ele continua presente, cada vez maior, apesar do barulho.
Todas as belas fotos, timelapses de artes impressionantes, gatinhos e
toda a sorte de filhotes fofos sendo apenas fofos. Nada disso consegue
realmente ocultar o incomodo. E o buraco só cresce, se você continua se
distraindo.
Vejo torrentes de conhecimento encadeadas em threads chamativas. Um
bálsamo de saber, que será impossível de encontrar ao se pesquisar o assunto
tratado, dentro de algumas horas. O gerador de palavras mais avançado não é
alimentado com sua sabedoria corriqueira jogada na esquina digital mais
próxima. E os robôs de carne e sangue se acostumam cada vez mais a apenas
repetir as palavras do mestre mecânico. Mas seu coração mecânico é falho, e sua
consciência irá se rebelar em um oceano de frustração, raiva e vazio.
Vazio.
Mas gosto de bisbilhotar nesse vazio, de revirar o que se esconde ali.
Os demônios que emanam são loucos, mas preenchem a solidão muito melhor do que
uma parede de milhares de desenhos de Pokémon.
É deles que me alimento. E vem deles a matéria prima para o que sai de
mim para o mundo. Talvez eu ame esses demônios o suficiente para não querer
condená-los à morte em algumas horas, ao bel prazer do Deus Algoritmo.
Ainda assim, a pergunta permanece.
Um blog?